PAULUS
Peça em dois atos, baseada em trechos da bíblia sagrada dos
hebreus, expondo, com um olhar feminino, os bastidores da fundação da igreja Católica
Apostólica Romana.
PRIMEIRO
ATO
CENA
1
Cenário – Há um clima de circo no ar. No centro
do palco, o picadeiro é um praticável com 3 degraus. Fundo neutro. Quem sabe
uma cortina anódina como pano de fundo? Luz, luzes, muita luz! Luzes piscando,
luzes gritando, luzes feéricas.
Paulo e
Tito estão em Jerusalém, à porta do templo, no meio da multidão (formada pelo
pessoal do coro). Tito (carregando dois pesados sacos - malotões de banco -
cheios de dinheiro) e Paulo, mais a frente, sobem os 3 degraus cenográficos das
escadarias do templo, quando se deparam, em cima do praticável, com um cego
pedindo esmolas. Percebendo na multidão em volta deles uma boa plateia, Paulo dirige-se
pomposamente ao cego, que, olhando para o céu, mantinha estendido o seu braço direito
e a mão aberta para esmolas..
(Nesse
instante, como num circo, há um repique de tambores anunciando o clímax da
apresentação do artista).
PAULO
(fala
com sotaque caricatural de árabe ou judeu, como a voz de Paulo Maluf)
-Vire-se
para mim, ó homem de Deus! Não tenho prata, nem ouro, mas o poder que está em
mim eu uso em seu benefício: em nome do Senhor Jesus Cristo de Nazaré, abra os
seus olhos e veja!
(Os
tambores interrompem abruptamente o repique e Paulo tomando asperamente a
bengala da mão do cego, parte-a ao meio. O cego sai andando e saltando e
louvando a Deus. O coro solfeja “A Balalaica” que nos circos sempre saúda o fim
bem sucedido das apresentações dos artistas. Reconhecendo o cego, que estava já
há alguns dias na porta do templo a pedir esmolas, a multidão corre para perto
de Paulo e Tito, enquanto o solfejo da balalaica transforma-se no mesmo instante
uma exclamação coletiva (Ohh!) e para, abruptamente), logo que Paulo infla os
pulmões para começar a falar.
PAULO
-
Varões israelitas: por que vocês se admiram tanto com o que acabam de
testemunhar? Por que vocês põem os olhos em nós, como se por nosso poder ou por
nossa piedade tivéssemos feito esse homem cego enxergar? O Deus de Abraão, de
Isaac, de Jacó, o Deus de nossos pais glorificou o seu filho Jesus, a quem
vocês entregaram, negaram e acusaram diante de Pilatos. Mas vocês negaram o
santo e o justo e pediram que um homicida fosse libertado em seu lugar. Vocês
mataram o criador da vida, a quem Deus ressuscitou dos mortos e nós somos
testemunhas!
(O coro
entoa “Aleluia, Aleluia” e para, quando Paulo retoma o seu discurso).
PAULO
–
Mediante a fé no seu nome, é que o santo nome de Jesus deu àquele cego a
firmeza e a luz. A fé que vem do santíssimo nome de Jesus foi quem deu a esse
cego uma cura perfeita, à vista de todos vós!
(O coro
volta a entoar o cântico “Aleluia” e vai se dispersando, ficando no palco,
sobre a plataforma superior da escadaria, apenas Paulo, Tito (com as sacolas
cheias de dinheiro das oferendas) e um camelô, que, dirigindo-se a Paulo,
afirma com convicção):
CAMELÔ
–
Mas que mentira! Que pouca vergonha! Esse farsante é o mesmo “cego” que você já
“curou” em Colossas, cidade da Frigia, lá no vale do Lico, quando você pregava
o nome desse nazareno, que você mesmo perseguia e matou. Eu sei! Eu vi!
PAULO
–
Sim, é ele sim, que voltou a ficar “cego” e eu, em nome do mesmo Jesus, o curei
novamente agora, seu idiota! (Paulo fala com impaciência e raiva).
CAMELÔ
-
Mas isso é um embuste! Se esse nome de Jesus, que você prega em toda parte, tem
mesmo todo o poder que você diz, você não precisa usar dessa farsa! Você está é
enganando o povo!
PAULO
–
Vá pro inferno, fofoqueiro infeliz! Vá, ande! Conte a todos a sua verdade,
viajante miserável. Você é um verme desgraçado; você está fora das bênçãos de
Deus e dos favores do Imperador! O que vale é o que eu digo e o que eu faço. A
verdade é que a verdade me pertence. A verdade pertence a quem manda. A verdade
é escrava de quem tem dinheiro (empunha
um dos sacos)
e manda. Essa é a verdade. Ninguém dará crédito às palavras de um vagabundo! E
você, camelô infeliz, nunca mais se atreva a vir aqui vender suas bugigangas!
Suma! Desapareça de minha frente, antes que recaia sobre a sua cabeça a ira
bendita do Senhor Deus, que, por muito menos, fulminou Ananias e Safira! Não
ouse me interpelar! Eu sou o apóstolo do senhor Jesus e você é nada e será
sempre o nada que você é! Vá embora, desgraçado.
(As
luzes se apagam. Abrem-se as cortinas e o praticável é removido do palco).
CENA 2
(Lentamente,
as luzes vão se acendendo e iluminando a sala simples, modestamente decorada.
Uma poltrona no centro da sala, uma mesa pequena ao lado da poltrona, do outro
lado uma estátua representando dois soldados romanos, em tamanho natural (que
podem ser dois atores performistas pintados de estátua). Ao fundo, no centro do
palco, um arcaz de sacristia com muitas gavetas e dois grandes jarros de flores
de cada lado do arcaz. A sala é o terraço do andar superior de uma casa
judaica, comumente chamada de cenáculo. O cenáculo termina num parapeito
caiado. Além do parapeito, a visão é muito clara e muito azul. Céu com poucas
nuvens, árvores, colinas verdejantes e a silhueta dos telhados de Jerusalém, em
primeiro plano de fundo.
Felipe,
belo e jovem amanuense, íntimo de Paulo, está sentado na poltrona, com a imponência
e placidez de um grande mar sem ondas, quando entram Paulo, esbaforido, e Tito
carregando as sacolas com o dinheiro da coleta, que ele entrega a Paulo e este
as exibe triunfante à Felipe. Em seguida, Paulo coloca as duas sacolas
apressadamente nas gavetas do arcaz. Felipe levanta-se da poltrona e saúda
Paulo afetuosamente, amorosamente. Incomodado, Tito sai da sala).
PAULO
–
Espere Tito, não se vá!
(Tito para
um instante e, enciumado, sai abruptamente da sala).
FELIPE
–
Pelo visto, amado Paulo, a coleta em Corinto foi bastante generosa para com os
fiéis de Jerusalém; quer dizer, a coleta em Corinto nos (dando ênfase irônica ao nos) foi
bastante generosa!
PAULO
–
Vejo, caríssimo Felipe, com muito orgulho, que os cristãos perseveram na
doutrina dos apóstolos, seja nas reuniões comuns; na fração do pão; nas orações
e principalmente no dízimo. Toda gente está com temor. Isso nos ajuda a
realizar muitos prodígios, Temos feito maravilhas em nossas viagens e também
aqui, é claro, em Jerusalém. Todos os que crêem estão unidos e tudo agora eles
têm em comum. Vendem suas propriedades, vendem todos os seus bens e depositam o
dinheiro aos nossos pés. E nós... bem, nós repartimos o dinheiro por todos, de
acordo com a necessidade de cada um, ouviu Felipe? Suas necessidades estão um
tanto quanto exageradas, seu perdulariozinho de uma figa! Mas, voltando aos
cristãos, todos os dias eles frequentam o templo em perfeita harmonia e,
partindo o pão pelas casas, tomam a comida com alegria e simplicidade de
coração, louvando a Deus e sendo bem visto por todo o povo. O senhor aumenta a
cada dia o número dos que encontram em nós o caminho da salvação.
FELIPE
–
Paulo, fique sabendo que não está sendo fácil eu me acostumar com esse seu novo
discurso. Há pouco tempo, obstinado, você perseguia esse povo. Agora, o povo
que você perseguiu passa a ser o seu povo fiel e você fala da fidelidade cega desse
povo, com tanta veemência, com tanta sinceridade, veemência e sinceridade que
me parecem tão verdadeiras!
PAULO
– Autênticas, verdadeiras.
Sinceridade mesmo, meu amado Felipe.
Não se deve perder o navio da história! Era o momento exato de mudar de lado.
Agarrar com unhas e dentes esta oportunidade rara! A nossa velha religião
ritualista, copiada dos egípcios estava peca, estéril, porque não temos um
faraó. O nazareno propôs uma revolução religiosa, de imensas possibilidades.
Jesus de Nazaré pregou uma doutrina de fraternidade, de amor ao próximo, que toca
o mais profundo sentimento do povo oprimido e, ao mesmo tempo, protege, perdoa
e até justifica os opressores. Não é um achado? Jesus pregou o desprezo pelas
coisas terrenas e a resignação perante as adversidades. Pregou a misericórdia e
a caridade como moeda de compra da felicidade. E, o mais importante, felicidade
que não é para esta vida, pois esta vida é toda ela feita de dor e de
sacrifícios. A felicidade prometida é para depois da morte, na vida eterna ao
lado de Deus! Só estava faltando quem soubesse usar, construtivamente, com
muito amor e coragem, esse enorme patrimônio religioso, financeiro e cultural.
FELIPE
–
E você, embarcando no navio da história a sua coragem e o seu amor ao próximo, torna-se
o seu comandante supremo, o ungido e abençoado sucessor de Jesus...
PAULO
–Não,
Felipe! Sucessor, não! Jesus é único e eterno. E assim ele será adorado.
Ninguém haverá de sucedê-lo. Sou apenas o fundador da igreja que ele não quis,
apesar de ter lançado, sem saber, a semente dessa religião no meu jardim. Mas
eu quero essa semente e farei valer o meu querer. A minha igreja e a fé em
Cristo serão eternas, para a maior glória de Deus e para o nosso próprio bem!
FELIPE
–
Se não fossem os açoites, as prisões, as emboscadas, todas essas perseguições
que você tem sofrido...
(Paulo
interrompe Felipe com um afago).
PAULO
–Ò
meu belo e jovem companheiro; se não fossem os açoites, as prisões, as
emboscadas, as perseguições que sofro e sofri, quem teria compaixão de mim? Todos
os grandes profetas precisam de um calvário! Se não fosse por tudo isso, quem
daria crédito às minhas palavras? Devo ao sofrimento de que padeço essa
possibilidade de levar com sucesso o nome e a palavra do nazareno aos quatro
cantos do mundo; nome e palavra que estão sendo acolhidos fervorosamente por
todos os povos, tanto pelos judeus, quanto pelos gentios!
FELIPE
–
Por tudo que ouvi e todas as suas cartas que você me ditou e eu registrei no
pergaminho sagrado do Novo Testamento, posso até admitir que você, de fato, não
é mesmo o sucessor do messias, porque você nega completamente tudo o que Jesus
ensinou e prega justamente o contrário do que ele queria!
PAULO
–
E nem poderia ser de outra forma, amado Felipe. O nazareno era um modesto filho
de carpinteiro, sem ambição, sem a visão pragmática da vida. Quando falo em
empunhar construtivamente a sua bandeira, eu estou dizendo que precisei
reformar os seus ensinamentos; tive que adaptar a sua palavra aos imperativos
da realidade! Era preciso construir uma moral e uma doutrina baseadas em alguns
dos seus ensinamentos, é bem verdade, desde que devidamente fundamentadas na
tradição e nas leis de nossos antepassados, reis generosos e sábios profetas,
que não devemos, nem podemos desprezar, como Jesus queria. Jesus de Nazaré
rasgou as escrituras sagradas: rompeu o véu do templo e disse que a lei de
Abraão, de Moisés e todo o velho testamento nada representam aos olhos de Deus,
porque a lei de Deus se resume a um só mandamento: “Amar a Deus sobre todas as
coisas e amar o próximo como a si mesmo”. É lindo, mas também é imprudência, é
burrice ser tão radical assim! Não
podemos romper impunemente com as nossas tradições. Jesus é e será apenas um
nome. Um santo nome, diga-se de passagem. E, em seu nome, nós seremos ao mesmo
tempo tutores dos explorados e parceiros dos exploradores! Nosso grande aliado
é o império que estiver dominando, império esse que lutará por nós, por nossa
causa, enquanto nós cuidaremos dos oprimidos. Impediremos revoltas e
conspirações dos explorados! Faremos o povo se orgulhar do seu sofrimento!
Diremos a todos que Deus mais ama a quem mais padece! Por isso, quem mais
sofreu neste mundo foi o seu próprio filho. E, depois dele, quem mais sofreu
fui eu! Ofereceremos aos tiranos a governabilidade e eles, em troca, destruirão
os nossos inimigos. Os tiranos se legitimarão destruindo os infiéis, isto é, destruindo
qualquer um que se oponha a nós! Não pode existir sucesso maior! Já pensou se
eu aceitasse que a igreja de Deus fosse o homem, como Jesus queria e não os
templos que temos construído em toda parte? Já pensou se fossemos de casa em
casa pregar a boa nova e mendigar a comida e a bebida para o nosso sustento?
Abrir mão do dízimo? Não! Não! Mil vezes não! Em boa hora restaurei e valorizei
a nossa tradição, o bom e velho testamento, que já deu certo no Egito. E só
assim acumularei riquezas e terei poder. Claro que não sou o seguidor do
messias. Sou o fundador de uma religião que pregará o seu nome e algumas de
suas idéias, para maior glória de Deus! Sem dinheiro não há poder e sem poder
não há futuro! Estou criando uma igreja rica e poderosa. Aliada dos reis e dos
tiranos. Enquanto houver reis e tiranos, a minha igreja viverá como mãe e
mestra dos oprimidos! Estou construindo a igreja universal, eterna, imbatível:
a igreja universal do reino de Deus! E nós, os seus apóstolos, seremos, para
todo o sempre, os guardiões desse tesouro! Jesus é o nome e não há salvação em
nenhum outro nome, porque nenhum outro nome foi dado aos homens para salvá-los!
(Atraído
pelas palavras de Paulo, Tito aparece no fundo do cenáculo)
FELIPE
–Tito
entre, aproxime-se. Vamos brindar o começo de uma nova era! Rode, Traga o
vinho!
(Tito
aproxima-se. Fita Paulo intensamente e logo em seguida entra Rode, jovem sensual, trazendo uma jarra de vinho,
acompanhada de sua mãe, Madalena, com uma bandeja e 3 copos. Elas deixam a
jarra de vinho e os copos sobre a mesa e se retiram da sala. Felipe serve o
vinho, observando com acintoso prazer os passos de Rode, elegante e faceira como
ela só. Paulo observa com indisfarçável indignação o olhar de Felipe para Rode
e, antes que elas saiam da sala, esbraveja, enquanto as mulheres param num
canto da sala para escutar):
PAULO (irado).
–Para
que não se repitam os mesmos erros do passado, devemos policiar e controlar
nossos impulsos bestiais! Você não pode ver um rabo de saia, Felipe! Nossa
missão é árdua, mas a recompensa tem sido abundante! Mas, para que o fio da
fortuna não se quebre, eu preciso ter perto de mim apenas homens de verdade!
E homem de verdade é todo ser humano
do sexo masculino que consegue ao mesmo tempo ter uma boa ereção e ser maior do
que seus impulsos sexuais pelas mulheres. O homem de verdade consegue ser mais
do que o seu instinto animal em direção às fêmeas no cio. Felipe, você deve
fazer logo a sua escolha: ou você me acompanha, sem se promiscuir com as
mulheres e desfruta comigo a nossa opulência, ou me deixe de uma vez e siga com
quem você quiser o seu destino de dor, que é o destino de todo animal humano
inferior!
FELIPE
–
Mas Paulo...
(Paulo
interrompe Felipe e diz:)
PAULO
– Mas nada, Felipe. Faça logo a
sua escolha! Acharei ótimo se você escolher ser homem de verdade e viver ao meu
lado. E se o fato de você precisar ficar longe das mulheres lhe causa tanto
desgosto assim, que lhe sirvam de consolo as palavras do profeta Samuel, que
agora as faço minhas:
“Angustiado
estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me
era o teu amor do que o amor das mulheres!”
(Tito
deixa bruscamente o copo sobre a mesa e sai).
FELIPE
–
Paulo, meu amado mestre, os meus olhos, essas livres e soberanas janelas da
minha alma, apenas se encantam com as belas formas femininas, é verdade; mas o
meu coração aprendiz deseja muito e só deseja os píncaros abençoados do Olimpo
e não o lamaçal! A minha escolha há muito já está feita: vou acompanhá-lo com
todo amor e lealdade, seguindo ao seu lado o nosso destino comum de opulência e
esplendor! Vou acompanhá-lo como uma sombra acompanha o seu guia em direção à
luz, para um dia, quem sabe, deixar de existir como sombra, para ser, eu mesmo,
um simples e singelo raio de sol em meio à luz!
PAULO
– Ainda bem, Felipe! E, se assim
for, vamos em frente! Esse instante me inspira a escrever algumas cartas. Anote
aí, Felipe.
(Paulo
começa a ditar uma carta para Felipe)
“De
Paulo, chamado apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, para Sóstenes, irmão, à igreja de Deus, que está
em Corinto; aos santificados em Jesus Cristo, chamados santos, com todos os que
invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, em qualquer lugar deles e nosso. Graças
e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso pai e pai do Senhor Jesus
Cristo...”
(Paulo fica ditando sem que se ouça a sua
voz e Felipe escreve o que Paulo dita, sob os olhares de Rode e Madalena,
enquanto o coro, fora de cena, solfeja um tema gregoriano, ou uma polifonia de
Palestrina. Pensativo, Paulo para de ditar; o coro silencia; Felipe olha para
Paulo e diz: )
FELIPE
– Continue, senhor !
(Paulo, fitando as duas
mulheres, recomeça a ditar a carta):
PAULO (fitando as 2 mulheres no
canto da sala)
-“A mulher deve usar o
véu nas assembléias, ou se não quiser usá-lo, que então raspe a sua cabeça,
pois em verdade, em verdade eu vos digo que a cabeça da mulher é o homem e a
cabeça do homem é Jesus Cristo! E mantenham-se as mulheres caladas nas
assembléias! Se tiverem alguma pergunta, que a faça em casa aos seus maridos.”
(Paulo se cala. Assim que
acaba de escrever, Felipe levanta os olhos para Paulo e diz):
FELIPE
– Continue, continue, senhor !
(O coro reinicia pianíssimo
o tema gregoriano, compondo um fundo
musical , agora não mais abafando, mas realçando o que está sedo ditado por
Paulo).
PAULO
– “Ora, quanto à
coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às
igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o
que puder juntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas
quando eu chegar. E quando eu tiver chegado, mandarei atraves de companheiros
que me são fiéis a vossa dádiva para Jerusalém. E, se valer a pena que eu
também vá, irei com eles.”
FELIPE
– Bravo mestre ! continue ...
PAULO
– “Aos romanos, porque
pareceu bem à Macedônia e à Acácia fazerem uma coleta para os pobres dentre os
santos que estão em Jerusalém ...”
(Felipe interrompe Paulo, dizendo irônico):
FELIPE
– Bem aventurado sou eu, pobre e santo de Jarusalém! Continue
meu amado mestre!
PAULO (sorrindo)
– “Aos Gálatas,
recomendo que não se esqueçam dos pobres; sempre procuro fazer com diligência a
divisão entre eles de tudo que for ofertado por vós !”
(Enquanto Felipe dá
gargalhadas histéricas, a música entoada pelo coro chega à apoteose, ao climax, ao gozo supremo.
Fecham-se cortinas, no meio do palco para ocultar o cenáculo, e todas as luzes
se apagam de vez.)
CENA 3
(Após um
breve intervalo no escuro, as luzes vão se acendendo aos poucos. O coro que
volta à cena, ocupa a frente do palco, representando transeuntes atentos ao que
se passa na praça principal.)
CORO - “Os apóstolos com grande coragem
davam testemunhos da ressurreição do Senhor
Jesus
e era grande em todos a graça
e nenhum necessitado
havia entre eles
porque todos aqueles
que possuíam campos ou casas
vendendo-os
traziam o preço do que vendiam
aos pés dos apóstolos
e os apóstolos distribuíam
por cada um
segundo a sua necessidade
e o pouco de muitos
se tornava o suficiente para todos.
Amém.”
(Entram
em cena PAULO e FELIPE, em frente ao coro, que continua a se movimentar
graciosamente, como transeuntes.)
FELIPE
Meu amado Paulo, fico confuso quando
você me fala em mudar de lado, para seguir Jesus e no mesmo instante oferece
seus serviços ao sumo sacerdote, para perseguir, prender e trazer para
Jerusalém todos os seguidores de Cristo que você encontrar em Damasco.
PAULO
Não se inquiete amado irmão
Felipe, pois quando às portas de Damasco eu chegar, uma luz fulgurante vinda do
céu você verá.
E eu ao vê-la, por terra, cego,
eu me prostrarei. Então você piedosamente ouvirá e testemunhará uma voz, vinda
dos céus, voz essa que dirá:
CORO -
“Paulo, Paulo,
por que me persegues ?”
PAULO
Dirigindo
para os céus os meus olhos opacos, sem luz e quase sem vida, perguntarei : Quem es tu, senhor ? E a voz, lá das alturas,
responderá:
CORO
-
“Eu
sou Jesus a quem tu persegues.
Levanta-te; entra na cidade,
E lá lhe será dito o que deves fazer.”
PAULO -
Tu e
mais Felipe, Timóteo e Silas vão me acompanhar e testemunhar. Eu, completamente
cego, serei por vós levado à Damasco, onde ficarei três dias, sem comer e sem
beber.
FELIPE E O CORO -
E quem acreditará em nós ?
PAULO -
Está
tudo combinado com Barnabé e Ananias. Ananias virá pela estrada de Damasco ao
meu encontro com escamas de peixe ocultas sob a manga da camisa e porá suas
mãos sobre os meus olhos. Nesse instante recobrarei a visão. As escamas
escondidas cairão dos meus olhos, e a voz de Deus dirá a Ananias essas palavras
sagradas:
CORO -
Escolhi
este homem para ser meu instrumento para levar o meu nome aos povos que criei. Para
levar o meu nome aos povos que criei.”
(Todas
as luzes se apagam bruscamente)
CENA 4
(Abrem-se
as cortinas e as luzes se acendem lentamente. Nuvens azuladas cobrem todo o
palco vazio e vão se dissipando aos poucos. Quando volta a claridade, Paulo
está cego, prostrado no meio do palco. Entra Ananias.)
ANANIAS -
(de
joelhos, olhando para o céu)
Senhor, meu Deus. Tenho ouvido
dizer a
muitos quantos males aos teus santos este
homem fez. E sei que ele vem com poderes do
príncipe dos sacerdotes para prender a todos que invocam o Teu nome!
CORO -
“Vai,
cumpre o teu papel, Ananias. Porque este homem é o instrumento que escolhi
dentre todos para levar meu nome diante dos reis, diante dos filhos de Israel e
diante de todo povo que criei. E eu lhe mostrarei o quanto se deve sofrer pelo
meu nome!”
(Ananias
aproxima-se de Paulo e impõe-lhe as mãos sobre os olhos).
ANANIAS
-
Paulo, o Senhor Jesus, que te
apareceu no caminho de Damasco, enviou-me
para que recuperes a visão e
fiques cheio do Espírito Santo!
(Imediatamente,
coisas como escamas de peixe - que precisam ser visíveis até para quem está na
ultima fila da plateia - se desprendem das mãos de Ananias, postas sobre os
olhos de Paulo, e ele recupera a visão. Paulo, sorridente, encantado,
deslumbrado, se deixa levar para o fundo do palco, onde recebe novas vestes, é
alimentado e batizado, enquanto o coro, apoteótico, entoa um hino de louvor.)
CORO -
Hosana, Hosana, Hosana!
Bendito este que vem em nome do
Senhor!
Hosana, Hosana, Hosana!
Hosana nas alturas!
Aleluia,
Aleluia, Aleluia!
Bendito o que vem em nome do
Senhor!
Hosana nas alturas!
FIM DO
1º ATO
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